Muitas coisas acontecem em curtos espaços de tempo; se decompusermos insistentemente aquilo que chamamos de “experiência”, chegaremos a um ponto em que a faísca de um instante é o suficiente pra combustão daquela coisa inominável , cuja junção incessante ao longo dos segundos, minutos, horas e dias e meses nos confere a bela bagagem de vivências.
Isto significa que os dias que correram entre a última postagem e esta são incontáveis na subjetividade de quem os viveu; nem eu, nem quem me lê conseguiria exprimir o significado total de mais do que um instante.
A vida aqui tem estado mágica, um pouco mais do que era antes de vir, sobretudo porque nova. O diferente, o inexplorado tem essa capacidade de nos atrair, como um gatinho a objetos curiosos. Falando nisso, gatos são minha constante companhia aqui em casa: são dois, um todo pretinho com olhos amarelos – Nosferatu -, e a outra toda branquinha de olhos bem azuis – Fiona. Bebês ainda, enchem o saco às vezes. O mais interessante é a personalidade que já lhes cabe a cada um: Fiona extremamente carinhosa, quer colo, se esfrega na mão até ela começar a acarinhar seu pescoço, até pula em cima de você, se agarrando à sua calça (ou à sua pele, uuui) com as unhas; Nosferatu mais na dele, gosta de ficar na janela espiando a vida lá fora, brincar sozinhamente com algum pedacinho de papel ou dormitar em cima da geladeira (acho que porque quentinha e distante do contato humano).
Enfim, escrevo da sala, cujas paredes brancas estéreis engolem qualquer manifestação orgânica, e ao mesmo tempo contrastam com a sentimentalidade (pós-moderna) de uma mesa japonesa de jantar, em madeira preta. Falando em moda nipônica, aqui tenho tornado hábito algo que era hobby esporádico: comer de hashi, e naquelas cumbuquinhas. É ótimo comer salada assim também, descobri. Fica mais mágico.
Fazer compras revelou-se também um hábito gostoso, e vou aos poucos descobrindo pequenas bênçãos como o tiozinho que vende frutas e legumes a preços de banana (com o perdão do trocadilho), logo em frente à narizempinadice do Pão de Açúcar careiro (sim, descobri que essa rede de supermercados é paulista – haha!), a padaria que vende alfajor de fabricação própria a um real (descoberta do Pedro), dentre outras coisinhas.
Hoje foi mais um dia cultural: fui à Pinacoteca com o Rodrigo, que veio pro show do Radiohead. Antes passamos na Galeria do Rock e fiquei de voltar pra comprar umas blusas das mais fofas que já vi, super baratinhas. Tudo rendeu fotos, porque tudo rende fotos por aqui, não sei se por conta da minha ainda turistagem ou porque as coisas pedem mais pra serem relembradas... talvez uma junção de ambas as coisas.
Legal também constatar que Sampa é trânsito de cariocas: a cada momento recebo a notícia de algum amigo ou conhecido do Rio que vem pra cá. Assim é bom que curo as saudades e os momentos de solidão, mas até que não tenho dado muito espaço a isso por enquanto. Até na casa antropofágica desmobiliada eu encontro um conforto distorcido, sabe-se lá.
Noitinha de sábado agora e muitos planos na cabeça, muitos projetinhos e projetões no papel-rascunho do pensamento, muita fertilidade nas ligações neuronais. E, coroando a minha “velhice”, recolho-me ao chazinho e às leituras enquanto a cidade pira lá fora da janela, recendendo levemente a poluição, jantares, vinhos, férias, roupa lavada, cigarros, sais de banho, incenso... rock’n’roll, balada, tunts-tunts, augusta, cerveja, punks, skinheads, gays... tudo isso são nuances que confluem, fervilham e convidam ao mesmo tempo à participação e à contemplação. Por hoje, contemplo.